domingo, 13 de setembro de 2009

- Vocês deveriam mesmo se casar – continua Danny, ignorando meus olhares furiosos. Ele pega a coqueteleira e começa a jogá-la de uma mão para a outra. – É perfeito. Olhem para vocês. Vocês moram juntos, não querem matar um ao outro, não são parentes... Eu poderia fazer um vestido fabuloso... – Ele pousa a coqueteleira com uma expressão subitamente concentrada. – Ei, escute, Becky. Prometa, se você se casar, eu posso fazer o seu vestido.
Isso é assustador. Se ele continuar assim, Luke vai achar que estou tentando pressioná-lo. Pode até achar que eu pedi a Danny para puxar o assunto deliberadamente.
Tenho de restabelecer o equilíbrio de algum modo. Rapidamente.
- Na verdade, não quero me casar – ouço-me falando. – Pelo menos nos próximos dez anos.
- Verdade? – Danny parece frustrado. – Não mesmo?
- É? – Luke ergue os olhos com uma expressão inescrutável. – Eu não sabia.

***

- Bex, escute – diz uma voz em meu ouvido. Olho, e Suze está me olhando sério. Está tão perto que posso ver cada grão de purpurina em sua sombra dos olhos. – Preciso te perguntar uma coisa. Você não quer mesmo esperar dez anos para se casar, quer?
- Bem... não – admito. – De verdade, não.
- E você acha que Luke é o homem certo? Só... honestamente. Cá entre nós.
Há uma longa pausa. Atrás de mim posso ouvir alguém dizendo:
- Claro, nossa casa é bastante moderna. Mil oitocentos e cinqüenta e três. Acho que foi construída...
- É – digo por fim, sentindo um rosa profundo surgir nas bochechas. – É, acho que é mesmo.
Suze me olha interrogativamente por uns instantes mais – e abruptamente parece chegar a uma decisão.
- Certo! – diz ela, pousando o uísque. – Vou jogar o buquê.
(...)
- Quero uma foto disso – diz Suze para o fotógrafo. – E onde está Luke?
O negócio ligeiramente estranho é que ninguém está vindo comigo. Todo mundo se afastou. De repente noto que Tarquin e seu padrinho estão andando e murmurando no ouvido das pessoas, e gradualmente todos os convidados se viram com rostos luminosos e cheios de expectativa.
- Pronta, Bex? – grita Suze.
- Espere! – grito. – Não há gente suficiente! Deveria haver um monte, todas juntas...
Sinto-me tremendamente estúpida ali sozinha. No duro, Suze está fazendo isso totalmente errado. Será que ela nunca foi a um casamento?
- Espera, Suze – grito, mas é tarde demais.
- Pega, Bex! – grita ela. – Peega!
O buquê vem girando pelo ar, e eu tenho de dar um ligeiro pulo para pegá-lo. É maior e mais pesado do que eu esperava, e por um momento só fico olhando-o atordoada, meio deliciada em segredo, e meio totalmente furiosa com Suze.
E então meu olhar focaliza. E eu vejo o envelopezinho. Para Becky.
Um envelope endereçado a mim no buquê de Suze?
Olho perplexa para Suze, e com o rosto brilhando ela assente para o envelope.
Com os dedos trêmulos eu abro o cartão. Há uma coisa dentro. É...
É um anel, todo enrolado em algodão. Há uma mensagem na letra de Luke. E ela diz...
Ela diz Você Quer...
Olho, incrédula, tentando manter o controle, mas o mundo está turvo, e o sangue martela na minha cabeça.
Levanto os olhos, atordoada, e ali está Luke, adiantando-se em meio às pessoas, o rosto sério mas os olhos quentes.
- Becky... – começa ele, e há um minúsculo ofegar por todo o adro. – Você quer...
- Sim! Siii-immmm! – Ouço o som jubiloso rasgando o ar antes mesmo de perceber que eu abri a boca. Meu Deus, estou tão cheia de emoção que minha voz nem parece a minha. De fato, parece mais...
Mamãe.
Não acredito.
Enquanto giro, ela aperta a boca com a mão, horrorizada.
- Desculpe! – sussurra, e uma onda de risos perpassa a multidão.
- Sra. Bloom, eu me sentiria honrado – diz Luke, com os olhos brilhando num sorriso. – Mas acho que a senhora já está comprometida.
Depois me olha de novo.
- Becky, se eu tivesse de esperar cinco anos, esperaria. Ou oito, ou mesmo dez. – Ele pára e há um silêncio completo, a não ser por um minúsculo sopro de vento, espalhando confete no ar. – Mas espero que um dia, preferivelmente antes disso, você me dê a honra de se casar comigo, certo?
Minha garganta está tão apertada que não consigo falar. Faço um movimento minúsculo com a cabeça e Luke segura minha mão. Desdobra meus dedos e pega o anel. Meu coração está martelando. Luke quer casar comigo. Devia estar planejando isso o tempo todo. Sem dizer nada.
Olho o anel, e sinto os olhos começando a ficar turvos. É um antigo anel de diamante, engastado em ouro, com minúsculas garras curvas. Nunca vi outro igual. É perfeito.
- Posso?
- Pode – sussurro, e olho enquanto ele o coloca no meu dedo. Luke me olha de novo e me beija, e os aplausos começam.
Não acredito. Estou noiva.

***

- Becky – diz Luke, na bucha. – Se me ligar de novo para falar sobre o casamento na hora do meu trabalho, é totalmente possível que a gente não tenha um casamento.
- Ótimo! – digo. – Ótimo! Se não está interessado, eu organizo tudo e vejo você no altar, certo? Está bom para você?
Há uma pausa, e dá pra ver que Luke está rindo.
- Quer uma resposta honesta ou a resposta com nota máxima no questionário “Seu homem realmente a ama?” da Cosmopolitan?
- Dê a resposta com nota máxima – digo depois de pensar um momento.
- Quero me envolver em cada detalhe minúsculo do nosso casamento – diz Luke, sério. – Sei que mostrar falta de interesse em cada estágio é sinal de que não estou comprometido com você como mulher e pessoa linda, atenciosa, e totalmente especial, e francamente, não mereço você.
- Foi bastante bom, acho – digo, meio de má vontade. – Agora dê a resposta honesta.
- Vejo você no altar.

***

O órgão pára de tocar e eu sinto uma pontada de nervosismo.
Finalmente está acontecendo. Estou finalmente me casando. De verdade.
Então começa a Marcha Nupcial e papai aperta meu braço, e começamos a ir para o altar.


Então Luke fez um discurso sobre como nós nos conhecemos em Londres quando eu era jornalista de economia, e como ele me notou na minha primeira entrevista coletiva, quando eu perguntei ao diretor de RP do banco Barclays por que eles não faziam capas chiques para os talões de cheques, como as dos celulares? E então ele confessou que começou a me mandar convites para eventos de RP mesmo quando não eram importantes para a minha revista, só porque eu sempre animava as ocasiões.
(Ele nunca me contou isso. Mas agora tudo faz sentido! Por isso eu vivia sendo convidada para aquelas coletivas estranhas sobre corretagem de commodities e sobre o estado da indústria do aço.)


- Eu sei. – Luke enxuga os olhos. – Eu sei que é. Becky Bloom, eu amo você.
- Agora eu sou Becky Brandon, lembre-se! – respondo, olhando para minha linda aliança nova. – Sra. Rebecca Brandon. – Mas Luke balança a cabeça.
- Só há uma Becky Bloom. Nunca deixe de ser ela. – Ele pega minhas mãos e me olha com uma estranha intensidade. – Independentemente do que você faça, nunca deixe de ser Becky Bloom.

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