domingo, 13 de setembro de 2009

- Sinto muitíssimo – sigo. – Eu só estava...
- Eu sei – diz Luke, fechando o jornal e se levantando. – Você estava falando com Enid. – Ele me dá um beijo e aperta meu braço. – Eu vi os últimos dois telefonemas. Foi um bom trabalho.
- E você não acreditaria em como é o marido dela – digo, enquanto passamos pela porta de vaivém saindo no estacionamento. – Não é de admirar que ela queira continuar trabalhando!
- Eu posso imaginar.
- Ele só acha que ela está lá para lhe dar uma vida fácil. – Sacudo a cabeça ferozmente. – Meu Deus, você sabe, eu nunca vou simplesmente ficar em casa preparando seu jantar. Nem daqui a um milhão de anos.
Há um silêncio curto, e eu levanto os olhos e vejo um sorriso minúsculo nos lábios de Luke.
- Ah... você sabe – acrescento rapidamente. – O jantar de ninguém.
- Fico feliz em ouvir isso – diz Luke afavelmente.

***

- Então. Como foram as reuniões em Zurique? Como está indo o... novo negócio?
Estou tentando ficar calma e controlada, mas posso sentir os lábios começando a tremer, e minhas mãos estão se retorcendo a ponto de dar nós.
- Becky – diz Luke. Ele olha sua taça por um momento, depois pousa no chão e me olha. – Há uma coisa que eu preciso dizer. Vou me mudar para Nova York.
Sinto-me fria e pesada. Então este é o fim de um dia completamente desastroso. Luke está me deixando. É o fim. Tudo acabou.
- Certo – consigo dizer, e dou de ombros, descuidadamente. – Sei. Tá. Tudo bem.
- E eu espero, espero de verdade... – Luke segura minhas duas mãos e aperta com força - ... que você venha comigo.

***

- Certo, então eu fui ingênua! Mas não cometi nenhum crime...
- Você não acha que jogar uma oportunidade fora é crime? – diz Luke furiosamente. – Porque da minha parte... – Ele balança a cabeça. – Meu Deus, Becky! Nós dois estávamos com tudo. Nós tínhamos Nova York. – Suas mão se fecham. – E agora, olhe para nós dois. Tudo porque você é tão obcecada por compras.
- Obcecada? – grito. Não suporto mais seu olhar acusador. – Eu sou obcecada? E você?
- O que você quer dizer? – pergunta ele, sem dar importância.
- Você é obcecado por trabalho! Como vencer em Nova York! A primeira coisa que você pensou quando viu aquela matéria não foi em mim ou... ou em como eu estava me sentindo, foi? Foi em como isso afetava o seu negócio. – Minha voz se eleva trêmula. – Você só se importa com o seu sucesso, e eu sempre venho em segundo lugar.

***

- Então, Becky. – Michael me dá um olhar gentil. – O que você vai fazer? Tentar marcar mais algumas reuniões?
- Não – digo depois de uma pausa. – Para ser franca, acho que não tem sentido.
- Então vai ficar aqui com Luke?
Uma imagem do rosto congelado de Luke atravessa minha mente, e eu sinto uma pontada de dor.
- Acho que também não tem sentido fazer isso. – Tomo um gole comprido de conhaque e tento sorrir. – Sabe de uma coisa. Acho que estou indo para casa.

***

- Eu estou indo para o estúdio – digo, cruzando os dedos. – Mas queria trocar uma palavrinha. Acho que sei por que corre o boato de que Luke vai perder o Bank of London.
Digo exatamente o que eu entreouvi no escritório, como fui à King Street e o que descobri.


- Então o que aconteceu?
- Luke veio de repente, pegou todos de surpresa, levou-os até uma sala de reuniões e revistou as mesas deles. E achou um monte de coisas.
- Luke fez isso? – Sinto uma pancada forte no estômago. – Quer dizer... Luke está em Londres?
- Está.
- Há quanto tempo ele voltou?
- Há três dias. – Michael me dá uma olhada rápido. – Então eu acho que ele não telefonou para você.
- Não – digo, tentando esconder o desapontamento. – Não telefonou.
(...)
- Becky, eu não disse a Luke que foi você quem me deu a dica. A história que contei foi que recebi um bilhete anônimo e decidi olhar.
- Parece bastante justo – digo, olhando para a toalha de mesa.
- Você é basicamente responsável por ter salvado a empresa dele – diz Michael com gentileza. – Ele deveria ser muito grato a você. Acha que ele deveria saber?
- Não. – Encolho os ombros. – Ele só pensaria... pensaria que eu estava...
Não posso acreditar que Luke voltou há três dias e não telefonou. Quero dizer, eu sabia que estava tudo acabado. Claro que sabia. Mas, secretamente, uma parte minúscula de mim achava...
De qualquer modo. Obviamente, não.
- O que ele pensaria? – pergunta Michael.
- Não sei – murmuro mal-humorada. – O fato é que tudo acabou entre nós. De modo que é melhor eu... não me envolver.
(...)
- Se surgisse uma oportunidade na América, você aceitaria?
- Eu aceitaria qualquer coisa – digo francamente. – Mas o que vai haver para mim na América agora?
Há um silêncio. Muito lentamente Michael pega um bombom de chocolate, desembrulha e põe na beira de seu prato.
- Becky, eu tenho uma proposta para você – diz ele, erguendo os olhos. – Nós temos uma vaga na agência de publicidade, de chefe de comunicações corporativas.
Encaro-o, com a xícara de café a caminho dos lábios. Não ousando imaginar que ele está dizendo o que acho que ele está.
- Nós queremos alguém com conhecimentos editoriais, que possa coordenar um boletim mensal. Você seria ideal nesses dois sentidos. Mas também queremos alguém que seja bom com as pessoas. Alguém que possa captar os rumores, certificar-se de que as pessoas estejam satisfeitas, informar qualquer problema à diretoria... – Ele dá de ombros. – Francamente, não posso pensar em ninguém melhor.

***

- Ei! – grita Tarquin. – É o último lote. Quer ver?
- Anda – diz Suze, apagando seu cigarro. – Você precisa ver a última coisa ir embora. O que é?
- Não sei – digo, enquanto subimos. – A máscara de esgrima, talvez?
Mas quando voltamos ao salão, sinto um choque. Caspar está segurando minha echarpe Denny and George. Minha preciosa echarpe Denny and George. Luminosa, azul, de veludo e seda, impressa num azul mais claro e com contas iridescentes.
Fico olhando-a, com um aperto crescendo na garganta, lembrando com uma nitidez dolorosa o dia em que a comprei. Com que desespero eu a queria. Como Luke me emprestou as vinte libras de que eu precisava. O modo como contei a ele que estava comprando para minha tia.
O modo como ele me olhava sempre que eu a usava.
Meus olhos estão ficando turvos, e eu pisco com força, tentando manter o controle.
- Bex, não venda sua echarpe – diz Suze, olhando para ela, perturbada. – Fique com uma coisa pelo menos.
- Lote 126 – diz Caspar. – Uma echarpe muito bonita, de seda e veludo.
- Bex, diga que você mudou de idéia!
- Eu não mudei de idéia – digo, olhando fixamente adiante. – Não há sentido em me agarrar a isso agora.
(...)
- Mais algum lance para esta echarpe Denny and George?
- Sim! – diz uma voz às minhas costas, e eu vejo uma garota de preto levantando a mão. – Tenho um lance de trinta e cinco libras, pelo telefone.
- Quarenta libras – diz prontamente a garota de rosa.
- Cinqüenta – diz a garota de preto.
- Cinqüenta? – diz a garota de rosa, girando na cadeira. – Quem está fazendo o lance? É Miggy Eloane?
- A pessoa quer permanecer anônima – diz a garota de preto depois de uma pausa. Ela capta meu olhar e por um instante meu coração se imobiliza.
(...)
- O lance está com o comprador pelo telefone. Cento e cinqüenta libras, senhores e senhoras.
Há um silêncio tenso – e de repente percebo que estou cravando as unhas na carne das mãos.
- Duzentas – diz a garota de rosa desafiadoramente, e há um som ofegante no salão. – E diga à sua compradora anônima, a Srta. Miggy Sloane, que o que ela oferecer eu posso oferecer.
Todo mundo se vira para olhar a garota de preto, que murmura alguma coisa no fone, depois assente.
- Meu comprador desiste – diz ela, erguendo os olhos. Sinto uma inexplicável pontada de desapontamento e rapidamente sorrio para escondê-la.
(...)
- Espere – digo. – Eu gostaria de entregar a ela. Se não tiver problema.
Pego a echarpe com Caspar e seguro-a, imóvel, alguns instantes, sentindo a familiar textura diáfana. Ainda posso sentir meu perfume nela. Posso sentir Luke colocando-a no meu pescoço.
A Garota da Echarpe Denny and George.
Então respiro fundo e desço da plataforma, em direção à garota de rosa. Sorrio para ela e entrego.
- Aproveite – digo. – Ela é muito especial.
- Ah, eu sei – diz ela em voz baixa. – Eu sei que é. – E só por um momento, enquanto nos entreolhamos, acho que ela entende completamente.

***

Estou dobrando-o para colocar debaixo do braço quando percebo um nome que me faz parar.
Brandon tenta salvar empresa. Página 27.
Com dedos ligeiramente trêmulos, desdobro o papel, acho a página e leio a matéria.
(...)
Em reuniões a serem realizadas hoje para enfrentar a crise, Brandon procurará persuadir os investidores e aprovar seus planos de reestruturação radical, que supostamente envolvem...


E quando estou me curvando para pôr a bolsa na esteira, uma voz familiar exclama atrás de mim.
- Espere!
Sinto uma pontada por dentro, como se tivesse caído três metros. Viro-me incrédula – e é ele.
É Luke, vindo pelo saguão na direção do balcão de check-in. Está vestido com a elegância de sempre, mas seu rosto parece pálido e abatido. Pelas sombras debaixo dos olhos é como se ele estivesse numa dieta de noites acordadas e café.
- Aonde você vai, porra? – pergunta quando chega mais perto. – Vai se mudar para Washington?
- O que você está fazendo aqui? – respondo trêmula. – Não está numa reunião para resolver a crise com seus investidores?
- Estava. Até que Mel entrou para servir chá e disse que tinha visto você na televisão hoje cedo.
- Você largou sua reunião? – Encaro-o. – O quê? Bem no meio?
- Ela disse que você ia deixar o país. – Seus olhos escuros me examinam. – É verdade?
- É – digo, e aperto a minha bolsa pequena com mais força. – Vou.
- Assim, de uma hora para outra? Sem nem me dizer?
- É, assim – digo, colocando a bolsa na esteira. – Do mesmo modo como você voltou para a Inglaterra sem nem me dizer. – Há uma irritação na minha voz, e Luke se encolhe.
- Becky...
- Prefere janela ou corredor? – interrompe a garota do check-in.
- Janela, por favor.
- Becky...
Seu celular toca agudo, e ele o desliga irritado.
- Becky... eu quero falar.
- Agora você quer falar? – digo incrédula. – Fantástico. Senso de oportunidade perfeito. No momento em que eu estou embarcando. – Bato no FT com as costas da mão. – E a tal reunião para resolver a crise?
- Ela pode esperar.
- O futuro da sua empresa pode esperar? – ergo as sobrancelhas. – Isso não é meio... irresponsável, Luke?
- Minha empresa não teria nenhuma porra de futuro se não fosse você – exclama ele, quase com raiva, e mesmo contra a vontade sinto um arrepio por todo o corpo. – Michael me contou o que você fez. Como desconfiava de Alicia. Como você avisou a ele, como descobriu tudo. – Ele balança a cabeça. – Eu não fazia idéia. Meu Deus, se não fosse você, Becky...
- Ele não deveria ter contado – murmuro furiosa. – Eu disse para não contar. Ele prometeu.
- Bom, ele contou! E agora... – Luke pára. – E agora eu não sei o que dizer – fala em voz mais baixa. – “Obrigado” nem chega perto.



- Ei! Você é do Morning Coffee. Não é?
- Era – digo com um sorriso educado.
- Ah, certo – diz ela, parecendo confusa. Enquanto entrega meu passaporte e um cartão de embarque, seu olhar passa em meu FT e pára na foto de Luke. Olha para Luke. E para a foto de novo. – Espera aí. Você é ele? – diz ela, apontando para a foto.
- Era – diz Luke depois de uma pausa. – Anda, Becky. Deixe eu lhe pagar uma bebida, pelo menos.

Sentamo-nos a uma mesinha com copos de Pernod. Posso ver a luz do celular de Luke piscando a cada cinco segundos, indicando que alguém tenta ligar para ele. Mas ele nem parece notar.
- Eu queria ligar para você – diz ele, olhando para a bebida. – Todos os dias eu quis ligar. Mas sabia o que você ia dizer se eu ligasse e dissesse que só tinha dez minutos para falar. O que você disse sobre eu não ter tempo para um relacionamento, aquilo ficou na minha cabeça. – Ele toma um gole comprido. – Acredite, eu não tive muito mais de dez minutos recentemente. Você não sabe como tem sido.
- Michael me deu uma idéia. – admito.
- Eu estava esperando até as coisas diminuírem o ritmo.
- Então escolheu o dia de hoje. – Não consigo evitar um sorriso desanimado. – O dia em que todos os seus investidores vieram de avião falar com você.
- Não foi ideal. Isso tenho de admitir. – Um clarão de divertimento passa brevemente em seu rosto. – Mas como ia saber que você estava planejando se mandar do país? Michael é um sacana que guarda segredo. – Ele franze a testa. – E eu não podia ficar lá sentado e deixar você ir.
(...)
- Eu sei que Michael ofereceu um trabalho a você – diz Luke, e faz um gesto para minha mala. – Presumo que isto significa que você aceitou. – Ele faz uma pausa, e eu o encaro, tremendo ligeiramente, sem dizer nada. – Becky, não vá para Washington. Venha trabalhar para mim.
- Trabalhar para você? – digo, pasma.
- Venha trabalhar na Brandon Communications.
- Você está louco?
Ele afasta o cabelo do rosto e de repente parece jovem e vulnerável. Como alguém que precisa dar uma parada.
- Não estou louco. Meu pessoal foi dizimado. Preciso de alguém como você num nível de comando. E você conhece finanças. Você já foi jornalista. Você é boa com as pessoas, já conhece a empresa...
- Luke, você vai achar facilmente alguém como eu. Vai achar alguém melhor! Alguém com experiência em RP, alguém que tenha trabalhado em...
- Tudo bem, eu estou mentindo – interrompe Luke. – Eu estou mentindo. Eu não preciso simplesmente de alguém como você. Preciso de você.
Ele me encara honestamente, e com uma pontada percebo que não está falando da Brandon Communications.
- Eu preciso de você, Becky. Eu dependo de você. Não sabia disso até você não estar mais lá. Desde que você foi embora suas palavras ficaram girando e girando na minha cabeça. Sobre minhas ambições. Sobre nosso relacionamento.
(...)
- É isso que eu quero dizer. Você é a única pessoa que me diz as coisas que eu preciso ouvir, mesmo quando não quero. Eu deveria ter confiado em você desde o início. Eu fui... não sei. Arrogante. Estúpido.
Ele parece tão implacável e duro consigo mesmo que eu sinto uma pontada de consternação.
- Luke...
- Becky, eu sei que você tem sua carreira, e respeito isso completamente. Eu nem pediria se não achasse que poderia ser um bom passo para você também. Mas... por favor. – Ele estende a mão sobre a mesa e põe sobre a minha. Sinto o calor dela. – Volte. Vamos recomeçar.
Encaro-o desamparada, com a emoção crescendo dentro de mim como um balão.
- Luke, eu não posso trabalhar para você – engulo em seco, tentando manter o controle de voz. – Eu tenho de ir para os Estados Unidos. Tenho de aproveitar esta chance.
- Eu sei que parece uma grande oportunidade. Mas o que eu estou oferecendo também poderia ser uma grande oportunidade.
- Não é a mesma coisa – digo, apertando o copo com força.
- Pode ser a mesma coisa. O que quer que Michael tenha oferecido, eu ofereço uma coisa igual. – Ele se inclina para a frente. – Eu ofereço mais. Eu...
- Luke – interrompo – Luke, eu não aceitei o trabalho de Michael.
O rosto de Luke se levanta bruscamente, num choque.
- Não? Então...
Ele olha para minha mala, e depois de novo para meu rosto – e eu o encaro num silêncio resoluto.
- Entendo – diz ele por fim. – Não é da minha conta.
Ele parece tão derrotado que eu sinto uma pontada de culpa no peito. Quero contar a ele – mas não posso. Não posso me arriscar a falar sobre isso, ouvindo minhas argumentações vacilarem; imaginando se fiz a escolha certa. Não posso me arriscar a mudar de idéia.
- Luke, eu tenho de ir – digo, com a garganta apertada. – E... você tem de voltar à sua reunião.
- É – diz Luke depois de uma longa pausa. – É. Você está certa. Eu vou. Vou agora. – Ele se levanta e enfia a mão no bolso. – Só... mais uma coisa. Você não vai querer esquecer isso.
Muito lentamente ele puxa uma echarpe comprida, azul-clara, de seda e veludo, com contas iridescentes espalhadas.
Minha echarpe. Minha echarpe Denny and George.
Sinto o sangue fugir do rosto.
- Como foi que você... – engulo em seco. – A pessoa que estava comprando pelo telefone era você? Mas... você recuou. A outra pessoa comprou a... – paro e encaro-o, confusa.
- As duas pessoas disputando a compra eram eu.
Ele amarra a echarpe suavemente no meu pescoço, me olha durante alguns segundos e depois me beija na testa. Depois se vira e vai embora, misturando-se à multidão do aeroporto.

***

Então. – Christina me dá um olhar longo e avaliador. – Você está pronta para a pessoa das dez horas?
- Sim. – Ruborizo ligeiramente sob seu olhar. – É, acho que sim.
- Quer escovar o cabelo?
- Ah. – Minha mão vai até o pescoço. – Está desarrumado?
- Na verdade, não. – Há uma ligeira fagulha em seu olhar, que eu não entendo. – Mas você quer ficar com a melhor aparência possível para nossa cliente, não é?
Ela sai da sala, e eu pego um pente depressa. Meu Deus, vivo esquecendo como a gente tem de ser arrumada em Manhattan.
(...)
- A pessoa das dez horas está aqui.
- Quem é a pessoa das dez horas? – pergunto enquanto pego um vestido Richard Tyler. – Eu não vi nada na agenda.
- Bem... é... – Seu rosto está todo brilhante e empolgado, por algum motivo. – Ah... aqui está ele.
- Muito obrigado – vem uma profunda voz masculina.
Uma voz profunda e inglesa.
Ah, meu Deus.
Congelo como um coelho, ainda segurando o vestido Richard Tyler enquanto Luke entra na sala.
- Olá – diz ele com um pequeno sorriso. – Srta. Bloom. Ouvi dizer que é a melhor especialista em compras da cidade.
Abro a boca e fecho de novo. Pensamentos giram na minha mente como fogos de artifício. Estou tentando me sentir surpresa, tentando me sentir tão chocada quanto sei que deveria estar. Dois meses de absolutamente nada – e agora aqui está ele. Eu deveria estar completamente abalada.
Mas, de algum modo – não me sinto abalada. No subconsciente eu sempre soube que ele viria.
No subconsciente, percebo, estive esperando por ele.
- O que está fazendo aqui? – digo tentando parecer o mais composta possível.
- Como eu disse, ouvi falar que você é a melhor especialista em compras da cidade. – Ele me lança um olhar interrogativo. – Achei que talvez pudesse me ajudar a comprar um terno. Este aqui está parecendo gasto.
Ele faz um gesto para seu imaculado terno Jermyn Street que, por acaso, sei que ele tem há apenas três meses, e escondo um sorriso.
- Você quer um terno.
- Quero um terno.
- Certo.
Jogando para ganhar tempo, ponho o vestido de volta num cabide, viro-me e coloco o cabide cuidadosamente na arara. Luke está aqui.
Ele está aqui. Quero rir, ou dançar, ou chorar, ou alguma coisa. Mas, em vez disso, pego meu bloco de anotações e, sem me apressar, viro-me.
- O que normalmente faço antes de qualquer coisa é pedir que meus clientes falem um pouco sobre si mesmos. – Minha voz está meio alterada e eu faço uma pausa. – Talvez o senhor pudesse... fazer o mesmo?
- Certo. Parece boa idéia. – Luke pensa um momento. – Eu sou um empresário inglês. Moro em Londres. – Ele encara meus olhos. – Mas recentemente abri um escritório em Nova York. De modo que vou passar um bocado de tempo aqui.
- Verdade? – Sinto uma onda de surpresa que tento esconder. – Abriu um escritório em Nova York? Isso... isso é muito interessante.
(...)
- Então... quanto tempo, exatamente, o senhor vai passar em Nova York? – acrescento em tom formal. – Para minhas anotações, o senhor entende.
- Sem dúvida – diz Luke, imitando meu tom de voz. – Bem, eu quero manter uma presença significativa na Inglaterra. De modo que vou passar duas semanas por mês aqui. Pelo menos, esta é a idéia no momento. Pode ser mais, talvez menos. – Há uma longa pausa e seus olhos escuros encontram os meus. – Tudo depende.
- De quê? – pergunto, mal conseguindo respirar.
- De... várias coisas.
Há um silêncio imóvel entre nós.
(...)
- Espero que Erin saia, mas ela está olhando para Luke com franca curiosidade.
- Então, como está indo? – pergunta para ele toda animada. – Já teve a chance de dar uma olhada na loja?
- Eu não preciso olhar – diz Luke com uma voz confiante. – Eu sei o que eu quero.
Meu estômago dá um pequeno salto mortal, e eu olho direto para o caderno, fingindo tomar algumas notas. Rabiscando qualquer bobagem.
- Ah, certo! – diz Erin. – E o que é?
Há um longo silêncio, e eu não suporto mais, tenho de olhar. Quando vejo a expressão de Luke, meu coração começa a bater com força.
- Eu estive lendo o que escreveu – diz ele, enfiando a mão no bolso e pegando um folheto intitulado “O Serviço de Compras Pessoais. Para gente ocupada que precisa de alguma ajuda e não pode se dar ao luxo de cometer erros.”
Ele faz uma pausa, e minha mão aperta a caneta com força.
- Eu cometi erros – diz ele, franzindo a testa ligeiramente. – Queria corrigir esses erros e não cometê-los de novo. Queria ouvir alguém que me conheça.
- Por que veio à Barney's? - pergunto em voz trêmula.
- Só há uma pessoa em cujo conselho eu confio. - Seu olhar encontra o meu e eu sinto um ligeiro tremor. - Se ela não quiser dar, não sei o que vou fazer.
- Nós temos o Frank Walsh no departamento de roupas masculinas - diz Erin, solícita. - Tenho certeza de que ele...
- Cale a boca, Erin - digo sem mexer a cabeça.
- O que acha, Becky?- pergunta ele, virando-se para mim. - Você estaria interessada?
Durante alguns instantes não respondo. Estou tentando juntar todos os pensamentos que tive nos últimos dois meses. Organizar minhas palavras exatamente no que tenho de dizer.
- Eu acho... - digo finalmente. - Eu acho que o relacionamento entre uma compradora pessoal e um cliente é bastante íntimo.
- Era isso que eu estava esperando - responde Luke.
- Precisa haver respeito. - Engulo em seco. - Não pode haver reuniões súbitas que tenham prioridade.
- Entendo. Se você me aceitar, posso garantir que você sempre vai estar em primeiro lugar.
- O cliente tem de saber que algumas vezes a compradora pessoal sabe mais. E nunca simplesmente descartar a opinião dela. Mesmo quando ele achar que é só fofoca ou... papo furado.
Capto um vislumbre do rosto confuso de Erin, e de repente sinto vontade de rir.
- O cliente já percebeu isso - diz Luke. - O cliente está humildemente preparado para ouvir e ser colocado na linha. Na maioria das questões.
- Em todas as questões - retruco imediatamente.
- Não force a sua sorte - diz Luke, com os olhos brilhando de diversão, e eu sinto um riso involuntário se espalhar no meu rosto.
- Bom... - rabisco pensativa no meu bloco durante um momento. - Acho que na maioria seria aceitável. Dada as circunstâncias.
- Então. - Seu olhar caloroso encontra o meu. - Isso é um sim, Becky? Você vai ser minha... compradora pessoal?
Ele dá um passo adiante, e eu estou quase tocando-o. Posso sentir seu perfume familiar. Ah, meu Deus, como senti saudade!
- Sim - digo toda feliz. - Sim, eu serei.

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